A maior parte do Genoma
Humano é composto por sequências de DNA que não sofrem transcrição e nem codificam proteínas, no entanto, esse DNA desempenha importantes papéis na célula.
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Apenas 1,5% do genoma humano é
transcrito em éxons que dá origem as proteínas. Um pequeno montante (0,5%), é
transcrito em uma variedade de pequenos tipos de RNA que não codificam
proteínas, como RNAr, RNAt, RNAi (RNAsi e RNAmi). Os outros 98% constituem-se
de íntrons e sequências regulatórias (24%), sequências não codificantes únicas
(15% - fragmentos de genes e pseudogenes), DNA repetitivo não relacionado com
os elementos de transposição (15%) e DNA repetitivo que inclui os elementos de
transposição (44%). Mas o que vem a ser o RNAi?
Pesquisadores trabalhando com plantas
transgênicas tentavam produzir petúnias com uma pigmentação violeta mais intensa,
inserindo como um transgene uma cópia extra do gene que produz a enzima responsável
pelo pigmento floral. Contrariamente ao esperado, em vez de roxas, as flores
nasciam brancas. Ou seja, a cópia extra do gene para pigmentação não apenas não
resultava em intensificação da cor como suprimia, inclusive, a ação do gene
endógeno, fenômeno conhecido como “co-supressão”. Mais tarde, os pesquisadores
entenderam o mecanismo subjacente: o transgene tinha gerado na planta,
intermediários de RNA dupla-fita que reconheceram o RNAm homólogo (endógeno),
gerando sua degradação.1 Mas como isso é possível?
Foram descobertos dois tipos de RNAs de
fita simples – MicroRNA (RNAmi) & short interfering RNA (RNAsi) – que por bloquearem a tradução,
acabam silenciando determinados genes. Por tal motivo, estes RNAs são
conhecidos como RNAs de interferência
(RNAi). A importância desses tipos de RNA foi reconhecida ao receber o
enfoque do Prêmio Nobel em Fisiologia e Medicina de 2006.
Transcrito primário do RNAmi |
Geração e função do RNAmi (segundo Campbell et al.8 ed. Artmed) |
O RISC também pode ser encaminhado para
o interior do núcleo pelo RNAsi, e associar-se a regiões do genoma que são
complementares ao RNAsi. No núcleo, o complexo recruta outras proteínas que
modifica a cromatina em torno do promotor do gene. Essa modificação resulta no
silenciamento da transcrição. Um bom exemplo disso ocorre durante a formação do
centrômero. Foi comprovado que em leveduras, pequenas regiões do centrômero são
transcritas produzindo RNAs que se dobram para formar hastes-alças, ou que se
hibridizam a outros RNAs da mesma região. Os dsRNA resultantes são reconhecidos
pela Dicer e clivados, originando os RNAsi responsáveis pelo encaminhamento da
maquinaria de RNAi de volta para os centrômeros. Reparem que estes RNAsi foram produzidos
pelas próprias células do organismo e que não atuaram no bloqueio da tradução,
mas sim, na remodelação da cromatina formando heterocromatina altamente condensada
na região do centrômero.4
O silenciamento gênico consiste em desligar um gene por um mecanismo de modificação genética. Tal modificação pode ocorrer durante os eventos transcricionais ou pós-transcricionais. O silenciamento gênico por meio de RNAi tem a vantagem de ser de fácil manipulação e de baixo custo, além disso, por possuírem sequências pequenas e agirem sem a necessidade de pareamento completo, um único RNAi pode regular muitos RNAm-alvo. Outra importante característica do silenciamento gênico por RNAi é a sua extrema eficiência. Quantidades muito pequenas de dsRNA são suficientes para induzir o desligamento completo dos genes-alvo. Embora o motivo para um efeito tão forte continue sem esclarecimento, ele parece envolver uma RNA-polimerase dependente de RNA, necessária em muitos casos de RNAi. O envolvimento dessa enzima sugere que algum aspecto do “sinal” inibidor poderia ser amplificado como parte do processo. Um modo pelo qual isso poderia ser atingido é revelado pela seguinte observação. Quando um dado RNAsi é direcionado contra uma região de um determinado RNAm, frequentemente, são gerados RNAsi adicionais direcionados contra regiões adjacentes do mesmo RNAm. A RNA-polimerase dependente de RNA poderia ter um papel na geração desses RNAsi adicionais, após ter sido recrutada para o RNAm pelo RNAsi original.4
REFERÊNCIAS
O silenciamento gênico consiste em desligar um gene por um mecanismo de modificação genética. Tal modificação pode ocorrer durante os eventos transcricionais ou pós-transcricionais. O silenciamento gênico por meio de RNAi tem a vantagem de ser de fácil manipulação e de baixo custo, além disso, por possuírem sequências pequenas e agirem sem a necessidade de pareamento completo, um único RNAi pode regular muitos RNAm-alvo. Outra importante característica do silenciamento gênico por RNAi é a sua extrema eficiência. Quantidades muito pequenas de dsRNA são suficientes para induzir o desligamento completo dos genes-alvo. Embora o motivo para um efeito tão forte continue sem esclarecimento, ele parece envolver uma RNA-polimerase dependente de RNA, necessária em muitos casos de RNAi. O envolvimento dessa enzima sugere que algum aspecto do “sinal” inibidor poderia ser amplificado como parte do processo. Um modo pelo qual isso poderia ser atingido é revelado pela seguinte observação. Quando um dado RNAsi é direcionado contra uma região de um determinado RNAm, frequentemente, são gerados RNAsi adicionais direcionados contra regiões adjacentes do mesmo RNAm. A RNA-polimerase dependente de RNA poderia ter um papel na geração desses RNAsi adicionais, após ter sido recrutada para o RNAm pelo RNAsi original.4
A interferência mediada por RNA é um
fenômeno que naturalmente ocorre nos organismos eucariotos (não ocorre em
procariontes) e pode ter evoluído originalmente para proteger as células de
elementos infecciosos ou desestabilizadores de qualquer tipo, que empreguem um
dsRNA intermediário em seu ciclo de replicação. Isso incluiria determinados
vírus e diversos transposons que se replicam através de um dsRNA intermediário.
O RNAi desliga os genes expressos por esses agentes, bem como destrói os
próprios dsRNA intermediários. A importância dessa função do RNAi continua
evidente nas plantas. Muitos vírus de plantas desenvolveram mecanismos para
contra-atacar a resposta defensiva montada pelo hospedeiro contra o RNAi. Essas
funções virais, chamadas supressores virais do silenciamento gênico (VSGS, viral suppressors of gene silencing),
normalmente, são determinantes essenciais de virulência, mas são dispensáveis
quando as plantas infectadas são deficientes em etapas das vias de RNAi. Também
foi relatado que alguns mutantes do verme Caenorhabditis elegans que
afetam o RNAi apresentam uma atividade endógena de transposons aumentada.5
Como método
experimental, o RNAi tem tido um impacto rápido e de grande amplitude. Ele
permite ao pesquisador silenciar um determinado gene em qualquer organismo,
simplesmente pela introdução de moléculas curtas de dsRNA com a sequência
complementar à daquele gene no organismo em questão. Torna-se evidente que os
RNAi possam alterar a progressão de diversas patologias. Em células de
mamíferos, não se pode utilizar esse sistema de silenciamento com dsRNA longos,
pois moléculas de RNA dupla-fita com mais de 30 pares de base ativam vias
relacionadas com a produção de interferons e a proteína quinase dependente de
dsRNA (PKR), levando à apoptose.1 A eficácia com que o RNAi
elimina a expressão dos genes-alvo é crítica, como também a relativa facilidade
do procedimento. Dessa forma, para a inativação de um gene, é muito mais fácil
utilizar esse método do que a interrupção da sequência codificante do genoma,
uma operação que, mesmo quando possível, é muito trabalhosa.4
Algumas
aplicações do RNAi:
- Regulação do desenvolvimento;
- Proteção contra infecções por certos vírus;
- Proteção contra os elementos de transposição;
- Terapia gênica por meio do silenciamento de genes específicos;
- Formação de heterocromatina na região dos centrômeros;
- Knockdown gênico: diminuição na quantidade de um RNAm indesejável;
- Genética reversa (estratégia para se conhecer a função de um determinado gene);
- Ação terapêutica contra microorganismos;
- Terapia contra doenças genéticas para as quais não existem drogas efetivas;
- Silenciamento de genes envolvidos no processo de tumorigênese.
REFERÊNCIAS
1 BARBOSA, A. S. & LIN, C. J. Silenciamento de Genes Com RNA
Interferência: Um Novo Instrumento Para Investigação da Fisiologia e
Fisiopatologia do Córtex Adrenal. São Paulo: Universidade de São
Paulo, 2004.
2 CAMPBELL, N.A. et al. Biologia. 8. ed. São Porto Alegre: Artmed, 2010.
3 FIRE,
A. et al. Potent and specific genetic interference by doublestranded RNA in Caenorhabditis elegans. Nature; 391(6669):806-11, 1998.
4 WATSON, J. D. et
al. Biologia molecular do gene. 5.ed. Porto
Alegre: Artmed, 2006.
5 FILHO, J. C. M. R. & KIMURA,
E. T. MicroRNAs: Nova Classe de
Reguladores Gênicos Envolvidos na Função Endócrina e Câncer. São
Paulo: Universidade de São Paulo, 2006.
*Biólogo, especialista em Genética & Evolução
pela UFPI.
Parabéns Profº Lyndon, excelente trabalho.
ResponderExcluirOlá Vívian, fico feliz que tenha gostado!
ResponderExcluirParabens Prof° Lyndon .
ResponderExcluirAdorei o Blog muito Criativo #Parabéns
ResponderExcluirStefanie Torres...eu qro meu ponto :]
ResponderExcluirMuito legal o blog professor, está de parabéns :)
ResponderExcluirIris Timbo
ResponderExcluirExcelente trabalho Professor !!!!
ResponderExcluiroi "Luis Victor"
ResponderExcluirGostei muito, é um site muito bem resumido os assuntos, vou volta mas vezes...
ResponderExcluirHelinei.M
OI
ResponderExcluirFrancisco José Elder Furtado Marques 1 Ano "A" Manhã Colégio Luciano Feijão
Enquanto esses desocupados pulam no carnaval, eu estou lendo o Blog do meu querido professor Lyndon .
ResponderExcluirRsrsrsrsr.....O tempo de vida é curto, portanto, saber aproveitá-lo é uma arte!
ExcluirÓtimos assuntos! Seu blog está de parabéns!
ResponderExcluirO melhor blog do mundo!! rsrs
Abraço,
Karolliny Oliveira - Sobral
Ótimos assuntos! Parabéns professor. Tudo de bom para você.
ResponderExcluirAbraço
Dalyla- Teresina