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Berlim 1945: a queda


INDICAÇÕES DE LIVROS*
  • LIVRO: Berlim 1945: a queda.
  • AUTOR: Antony Beevor.
  • PUBLICAÇÃO ORIGINAL: Inglaterra, 2002.
  • EDITORA: Record.
Antony Beevor

Dizer que Hitler foi um gênio não é novidade, ele foi uma das maiores personalidades que já existiu afinal não se pode negar sua audácia, liderança, eloquência e persuasão. Estas, com mais algumas características, o tornaram um líder nato. Com a humilhação imposta pelo Tratado de Versalhes, a redução de parte de seu território, a perda de suas colônias na África e ter de enfrentar uma tremenda inflação, Hitler surgiu para a nação patriota alemã como uma salvação do orgulho que tinha sido pisado e massacrado pelas outras potências. Tinha um poder de manipulação digno de um bom ditador, e foi pela força e coragem que demonstrava que acabou conquistando a personalidade já fraca e corrompida do povo, fazendo-os acreditar em um futuro brilhante, uma dominação mundial. Foi um gênio psicopata. O maior erro de Hitler, no entanto foi a arrogância, o orgulho, o individualismo e a prepotência. Nas ocasiões onde era mais inteligente bater em retirada, ele fazia com que até o último homem ficasse e morresse por ele.
Hitler se considerava um exímio estrategista e não gostava de aceitar opiniões que não fossem favoráveis com as suas, principalmente no que diz respeito a logísticas militares. Poucos oficiais conseguiam fazer Hitler mudar de opinião, pois muitos evitavam bater de frente com o Führer. Um dos raros homens que conseguia impor suas opiniões perante a Hitler era o general Heinz Wilhelm Guderian (17/06/1888 – 14/05/1954), um oficial competente, inteligente e sóbrio. A propósito, encontrei uma passagem muito interessante dos fatos no excelente livro “BERLIM 1945: A QUEDA” de Antony Beevor, em que Guderian e Hitler trocam farpas as vésperas da invasão russa em Berlim por um motivo aparentemente inútil no tocante a ofensiva da cidade. Retratarei essa passagem a seguir.


[...”Enquanto isso, na Prússia Oriental, as forças alemãs estavam detidas mas ainda não derrotadas. Os restos do Quarto Exército, que não conseguira escapar no final de janeiro, fora espremido no kessel de Heiligenbeil, de costas para o Frisches Haff. Seu principal apoio de artilharia vinha dos canhões pesados dos cruzadores Almirante Scheer e Lützow, que disparavam do Báltico, do outro lado da restinga de Frische Nehrung e da laguna congelada.
Os remanescentes do Terceiro Exército Panzer em Königsberg haviam sido isolados da Península de Samland, mas em 19 de fevereiro um ataque conjunto pelos dois lados criou um corredor terrestre que foi duramente defendido. A evacuação de civis e feridos do pequeno porto de Pilau, na ponta da península de Samland, intensificou-se, mas muitos civis temiam partir de navio depois do torpedeamento do Wilhelm Gusloff e de outros barcos de refugiados. Nas primeiras horas de 12 de fevereiro, o navio-hospital General von Steuben foi torpedeado depois de deixar Pilau com 2.680 feridos. Quase todos se afogaram.
O Segundo Exército, enquanto isso, fora forçado de volta para o baixo Vístula e seu estuário, defendendo Dantzig e o porto de Gdynia. Formou o flanco esquerdo do Grupo de Exércitos do Vístula, de Himmler. No centro, na Pomerânia Oriental, formava-se o novo Décimo Primeiro Exército Panzer SS. O flanco direito de Himmler no Oder consistia dos remanescentes do Nono Exército do general Busse, que fora tão severamente golpeado no oeste da Polônia.
             Himmler raramente se aventurava fora de seu luxuoso trem especial, o Steiermark, que chamara de seu “quartel general de campanha”. O Reichsführer SS percebia agora que a responsabilidade do comando militar era bem maior do que imaginara. Sua “insegurança como líder militar”, escreveu o coronel Eismann, “tornava-o incapaz de uma apresentação firme da situação operacional a Hitler, que dirá de defender-se”. Himmler costumava voltar da conferência de situação do Führer com os nervos em frangalhos. Os oficiais do estado-maior não se divertiam muito com o paradoxo de que o temido Himmler pudesse ser tão medroso. Sua atitude servil frente a Hitler e seu medo de admitir o estado desastroso de suas forças “causaram grande dano e custaram enorme quantidade de sangue desnecessário”.
Himmler, buscando refúgio nos clichês agressivos do próprio Führer, falava em mais contra-ataques. Depois da debacle de Demmlhuber, Himmler decidiu-se a criar o chamado Décimo Primeiro Exército Panzer SS. Na verdade, todo o Grupo de Exércitos do Vístula, nos primeiros dias, só continha três divisões panzer com efetivo reduzido. No máximo as formações disponíveis constituíam um corpo, “mas Exército Panzer”, observou Eismann, “causa melhor impressão”. Himmler tinha outro motivo, no entanto. Era promover oficiais das Waffen SS no estado-maior e no comando de campanha. O Obergruppenführer Steiner foi designado seu comandante. Steiner, soldado experiente, era, com certeza, opção bem melhor que outros oficiais superiores das Waffen SS. Mas sua tarefa não era fácil.
O general Guderian, decidido a manter aberto um corredor até a fronteira da Prússia Oriental, argumentou numa conferência de situação, na primeira semana de fevereiro, que era necessária uma operação ambiciosa. Estava ainda mais falador do que de costume naquele dia, após ter bebido um pouco no almoço mais cedo com o embaixador japonês. Guderian queria um movimento em pinça a partir do Oder, ao Sul de Berlim, e um ataque vindo da Pomerânia para cortar os exércitos da vanguarda de Jukov. Para reunir soldados suficientes, mais divisões encurraladas inutilmente na Curlândia e em outros pontos precisavam ser trazidas de volta pelo mar e a ofensiva da Hungria adiada. Hitler recusou mais uma vez.
Disse heroicamente o General Guderian
Hitler começou a tremer de raiva ao se pôr de pé

O coronel de Maizière, novo oficial de operações em Zossen, jamais vira uma briga dessas e ficou de pé, chocado e temeroso pelo chefe do Estado-Maior. Para dar fim ao frenesi de Hitler, Göring levou Guderian para fora da sala em busca de café enquanto todos se acalmavam.
         O principal temor de Guderian era que o Segundo Exército, tentando manter a ligação entre a Prússia Oriental e a Pomerânia, corresse o risco de ficar isolado. Assim, defendeu, em vez disso um único ataque rumo ao sul, partindo do “balcão do Báltico”. Este ataque ao flanco direito de Jukov também impediria que os soviéticos tentassem atacar Berlim imediatamente. Em 13 de fevereiro, uma conferência final sobre a operação realizou-se na chancelaria do Reich. Himmler, como comandante em chefe do grupo de Exércitos do Vístula, estava presente, assim como o Oberstgruppenführer Sepp Dietrich. Guderian também trouxe seu representante extremamente capaz, o general Wenk. Guderian deixou claro, desde o início, que queria que a operação começasse dali a dois dias. Himmler contrapôs-se, dizendo que nem todo o combustível e a munição tinham chegado. Hitler deu-lhe apoio e logo o Führer e seu chefe do Estado-Maior do Exército estavam tendo outra rusga. Guderian insistia que Wenk deveria dirigir a operação.
- O reichsführer SS é homem o bastante para realizar o ataque sozinho – disse Hitler.
- O reichsführer SS não tem nem a experiência necessária nem um estado-maior suficientemente competente para controlar o ataque sozinho. A presença do general Wenck é, portanto, essencial.
- Não permito – gritou Hitler – que o senhor me diga que o reichsführer SS é incapaz de cumprir seu dever.
            A discussão continuou por muito tempo. Hitler estava literalmente enlouquecido de raiva, e gritava. Guderian afirma ter levantado os olhos para um retrato de Bismarck, o Chanceler de Ferro, com seu capacete e imaginado o que ele pensaria sobre o que acontecia no país que ajudara a criar. Para a surpresa de Guderian, de repente Hitler parou de andar de lá para cá e disse a Himmler que o general Wenck se juntaria a seu quartel general naquela noite e conduziria a ofensiva. Então sentou-se abruptamente e sorriu para Guderian.
- Agora, por favor, continuemos a reunião. O estado-maior geral ganhou uma batalha hoje”. ...]


Esse livro é uma contribuição impressionante de fatos sobre soldados e civis nos extremos da experiência humana, portanto o recomendo a todo professor formador de opiniões, pois a história da Segunda Guerra Mundial é uma tragédia que nunca deve ser esquecida.    

*Biólogo, especialista em Genética & Evolução pela UFPI.

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