Uma população com três demes |
Poucos são os indivíduos que vivem
isolados na natureza. Eles tendem a se agregar e, assim em grupos, adquirem
propriedades numa dimensão de espaço e tempo. A razão deste fato é muito
simples, pois os organismos adaptam-se a um conjunto particular de condições
ambientais, e aqueles com adaptação semelhante têm uma possibilidade maior de
se agruparem dentro de um mesmo ambiente. O termo população refere-se a um grupo de indivíduos, da mesma espécie, que
se interacasalam e que por isso têm propriedades tanto em termos de espaço como
de tempo. A população mantém uma continuidade no tempo porque, na sua
existência, as sucessivas gerações são interligadas por elos de reprodução.
Possui também uma unidade no espaço devido ao interacasalamento dos indivíduos
que a compõem. Uma população pode aumentar ou diminuir de tamanho devido à
imigração ou emigração de indivíduos ou por alteração na taxa de nascimentos ou
mortes. Pode também fundir-se com outras populações ou extinguir-se, como
consequência de um total desaparecimento ou de uma emigração de todos os seus
membros.1
O aspecto mais importante, contido nesta
descrição de população, é a troca de genes que ocorre entre os seus membros.
Aliás, muitos dos princípios básicos da genética de populações foram
estabelecidos quando estes agrupamentos foram considerados populações de genes,
ao invés de populações de indivíduos, simplesmente. Sob este aspecto, toda a
informação genética contida num grupo de indivíduos que se interacasalam constitui,
globalmente, o que se denomina reservatório gênico ou pool gênico. Tal conjunto dispersa-se transitoriamente pelos
indivíduos e se mantém coeso num grupo determinado de genótipos. Os zigotos
(genótipos) que dão origem aos indivíduos de uma dada geração são o resultado
da união de gametas produzidos pela geração anterior. Por meio da meiose, os
alelos são separados, misturados e depois reagrupados nos gametas. Estes
últimos combinam-se na fertilização para formar um novo conjunto de genótipos.
O conjunto gênico, portanto é reconstituído em cada geração.1
O conceito de pool gênico pode ser entendido mais adequadamente quando se
consideram pequenos grupos populacionais semi-isolados, nas quais os indivíduos
se interacasalam de modo a se aproximarem da panmixia, isto é, em que os casais
constituem uma associação aleatória de genótipos. Tais populações são chamadas
de demes.1
Membros de uma espécie são raramente
distribuídos de forma homogênea no espaço: existe quase sempre algum tipo de
agrupamento ou agregação, ou formação de cardume, bando, manada ou colônia. A
subdivisão da população é frequentemente causada por heterogeneidade (patchiness) ambiental, áreas de hábitat
favorável misturadas com áreas desfavoráveis. Essa heterogeneidade ambiental é
óbvia no caso, por exemplo, de organismos terrestres em ilhas ou em um
arquipélago, mas ela é uma característica comum na maioria dos hábitats – lagos
de água doce possuem áreas rasas e profundas, prados possuem úmidas e secas,
florestas possuem áreas ensolaradas e encobertas. A subdivisão da população
pode também ser causada por comportamento social, como nos lobos quando formam
matilhas. Mesmo a população humana é agrupada ou agregada – em cidades, longe
de desertos e montanhas. As barreiras geográficas são importantes, porque os
membros da maioria das espécies, incluindo humanos, provavelmente escolhem o
seu parceiro na área na qual eles vivem.2
As unidades de cruzamentos locais de
populações grandes e geograficamente estruturadas são de algum interesse,
porque é dentro dessas unidades locais que a evolução adaptativa acontece por
meio de mudanças sistemáticas na frequência de alelos. Essas unidades de
cruzamento local (demes) são fundamentais para a genética das populações por
serem as unidades evolutivas reais de uma espécie.2
Eletroforese de isoenzimas para detectar polimorfismo |
Cálculo do tamanho efetivo de uma população |
Uma
característica interessante e importante desse modelo é que, a menos que 4Nm
seja muito grande, o tamanho populacional efetivo (Ne) é maior que o tamanho
real (ND). Esse resultado aparentemente paradoxal se origina pela
subdivisão populacional. Quando existem muitos demes conectados por baixas taxas
de migração, então, mesmo se soubéssemos qual alelo em algum dos demes estaria
destinado a ser o ancestral de todos os outros alelos na população inteira em
algum tempo futuro, o processo pelo qual esse alelo “sortudo” se espalha por
entre os demes demoraria muito tempo. Colocando de outra forma, quando uma
população está subdividida, pode levar muito tempo para que dois alelos
quaisquer presentes em demes diferentes possam traçar seus caminhos até um
ancestral comum presente em algum deme específico na população ancestral.2
REFERÊNCIAS
1 METTLER, L. E. &
GREGG, T. G. Genética de Populações e Evolução. São
Paulo: Polígono, 1973.
2 HARTL, D. L. &
CLARCK A. G. Princípios de Genética de
Populações. 4.ed. Porto Alegre: Artmed, 2010.
3
FUTUYMA, D. J. Biologia Evolutiva. 2.ed.
Ribeirão Preto:
FUNPEC, 2002.
*Biólogo, especialista em Genética & Evolução
pela UFPI.
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